O maltrapilho
Uma bituca apagada
Mantém no canto da boca
Uma alparcata rasgada
Nas pernas a calça rota
Uma blusa meia malha
Velhinha e toda surrada
Às vezes chapéu de palha
Outras cabeça raspada
Um cobertor de algodão
Pendendo de suas costas
Vive arrastado no chão
Quando não cheio de moscas
Só de chuva toma banho
A fetidez que exala
É pior que de rebanho.
Da boca já nem se fala
Nunca teve ocupação
Nem gostou de trabalhar
Não ouviu pai, nem irmão
Nem enxada quis pegar
Da vida da ociosidade
Fez a sua profissão
Vivendo da caridade
Passa muita privação
É moço, parece velho
Rejeitado, angustiado
A poça d’água é seu espelho
Da família abandonado
Na vida dura, lascada
Sujo de lama e poeira
Pondera já ser um nada
Se não mudar a estribeira
Lembra os conselhos do pai
As sugestões do irmão
Começa a pensar, aí vai
Mudar sua condição
Mas como, se maltrapilho
Ninguém o vai aceitar
Resolve ir ao caudilho
Suas idéias confessar
O pastor o convidou
Para um bom banho tomar
Em seguida o barbeou
E novas roupas lhe foi dar
Trocado o indumentário
Outra pessoa ficou
Chegou ao fim do calvário
E o Pastor o abençoou
Porangaba, 06/03/2011
Armando A. C. Garcia
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