Bem vindo à Brisa da Poesia!

Espargindo fragrância nas mal dedilhadas letras, levo até vocês, uma amostra tecida no rude tear da minha poesia! Espero que o pensamento exteriorizado nos meus versos leve até vocês momentos de deleite e emoção!
Abraços poéticos, Armando A. C. Garcia
São Paulo, 06/08/2011

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A Fome


A  Fome

Negra!
Negra é a fome,
A miséria que mata
Que aniquila
Que desespera
Que inanima
Que debilita
Negra é a fome
Negra,
Negra
Cruel
Que mata
Corroendo
Ressequindo.
Negra é a fome,
Que não perdoa
Pobres orfãos
Pequeninos
Abandonados,
Corpos ao léu,
De bocas abertas
Pedindo ao céu!...
Clamando!
Mas tu não perdoas
Não te condóis.
Os pobrezinhos
Trêmulos,
Mal alimentados
Caminham, quase arrastados.
Quase impelidos
Por força invisível
Tu os persegues
Os atacas,
De pedra deve ser teu coração
Que não te condóis,
Não tens compaixão
De um pequenino,
De um infeliz,
Desventurado,
Que veio ao mundo
Amargurado,
Para pagar,
Para ressarcir
O seu pecado
Que em outras era
Praticou.
Mas tão pequenino,
Ainda,
Como podes tu, não perdoar!
Mas tu és pedra,
Pedra,
Pedra,
Pedra,
Negra,
Negra,
Sem coração.
Que não perdoas
Ante as bocas famintas
Escancaradas,
Tu não perdoas,
Não perdoas.
Assim vais matando,
Sacrificando,
Em holocausto.
Matas a vida da vida,
Tiras a seiva vital,
Desses pequeninos,
Miseráveis...
Deixas morrer à míngua
Sem dó,
Sem piedade,
Tantos corpos sadios,
Com que tens saciado tua gula,
Tua gula hiulca,
Sagaz!
Como podes tu, oh! fome!
Continuar impune?
Monstro,
Monstro negro!
Monstro sem coração.
De hoje em diante,
Regenera-te,
Tem compaixão
Se dás ao rico,
Não deixes faltar ao pobre o mesmo pão.
Regenera-te,
Regenera-te,
Serás um monstro de coração.

São Paulo, 08/04/1964 
(data da criação)
Armando A. C. Garcia 

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